“Eu escolhi esperar” é uma frase que eu tenho ouvido com certa frequência, principalmente em círculos religiosos, aplicada a relacionamentos entre duas pessoas com vistas ao namoro. O que seria esse “esperar”? Ficar sentado aguardando (na ansiedade ou na canseira emocional) “a pessoa certa” bater em sua porta ou “o príncipe encantado” aparecer em sua janela? Ou orar neuroticamente pra que “a mulher ideal” apareça deslumbrante diante de um mundo onde o real é frustrante demais?
Um relacionamento já começa condenado ao fracasso quando a oração é dissociada da amizade, e vice-versa, quando “a lista da pessoa dos sonhos” prevalece sobre a convivência e a flexibilidade, ou quando “a possibilidade de dar errado” é totalmente abafada pela “certeza de que tem que dar certo, pois não posso errar de novo, já errei demais”. Se, por um lado, há pessoas que se entregam sem freios para outras, há aquelas que se protegem excessivamente. Precisamos buscar a orientação de Deus? Sim e sempre! A oração (a busca pela direção divina e pelo equilíbrio interior) e uma vida baseada nos princípios bíblicos (e não institucionais ou meramente religiosos) são essenciais, sem dúvida alguma. Mas, a troca de olhares, o convívio, a amizade, o crescimento em amor, o servir um ao outro e o respeito são imprescindíveis, e não florescem da noite pro dia. São ingredientes tão sagrados, sendo dons de Deus concedido aos seres humanos, quanto uma vida de oração. Criar o hábito da oração, mas sem aprender a tocar o coração de outra pessoa com o dom da alegria e do cuidado, não adianta muita coisa...
O amor nunca nasce pronto e cai do céu, beijando nosso rosto e ficando pra sempre conosco. Pelo contrário, o amor é como uma semente a ser cultivada por duas pessoas no jardim da vida. Não cai do céu, mas floresce no chão da terra. Não vem de fora com força, mas surge de dentro com singeleza. Por isso, “eu escolhi cultivar” é melhor do que “eu escolhi esperar”. Cultive, nem que seja a terra do seu coração, para uma semente que, em breve, poderá ser ali graciosamente colocada por Deus.
E que toda espera não proceda do verbo “esperar”, sinônimo de “não fazer nada” ou de estar passivo. Isso que pode resultar numa lógica inadequada: “eu espero em Deus e, ser der errado, a culpa é dele”. Que toda espera seja um “esperançar”, ou seja: “eu cultivo a esperança de que Deus ouvirá minhas orações e minhas necessidades humanas. Que Ele me ensinará a cuidar de mim e da outra pessoa, com um amor simples, porém forte, enraizado em sua Palavra”. Por isso: “eu escolhi esperançar” é ainda melhor do que “eu escolhi esperar”.